De forma anônima, quanto a um tópico deste blog, recebi o seguinte questionamento, que considero ótimo, pois eu também me inquieto com a questão:
"O que é mais dificil para um poeta? Decidir finalizar uma poesia? ou se controlar para não se ver envolvido na reformulação dela?"
Não é só o poeta que se vê tentado, a cada leitura, a promover alterações na sua obra. São muitas as obras de ficção que sofreram alterações nas sucessivas edições em vida dos autores. Cite-se Os Sertões e Grande Sertão: Veredas. Veja-se o caso de estudo de Manauel Bandeira ou Ledo Ivo (estou em dúvidas neste momento sobre a autoria do artigo) sobre as alterações que Castro Alves fez no antológico poema Mocidade e Morte. Ainda ontem tomei conhecimento de uma edição definitiva do romance Pedro Páramo, de Ruan Rulfo, pois a família descobriu que, nos últimos anos, era desejo deste grandioso romancista mexicano fazer alterações em uns três ou quatro pequenos pontos desta obra capital do acervo da literatura mundial. Quero esta edição, mesmo que tenha uma edição critica lindíssima da Coleção Archivos da Unesco. Mas agora descubro que esta edição crítica da Unesco, afinal, não é a definitiva. Portanto, as alterações continuam pos morten. Ainda agora sai edição de luxo do Corpo Geral, do Guimarães Rosa, retomando a disposição original deste ciclo de novelas, já que ele manifestou este desejo em carta ao poeta Alphonsus Guimaraes Filho.
Portanto, o poeta é um ser dialético, que está em constante aprendizagem, e tendo sendo novas visões sobre a escritura e a estrutura de seus poemas. Não é à toa que as primeiras obras de alguns poetas acabam sendo banidas do corpus de suas obras. João Cabral de Melo Neto extirpou do corpus de sua obra completa a maioria de seus poemas iniciais, bem como reescreveu muitos outros.
Há poemas que nascem inteiros e que não merecem reescrições. Assim, a dificuldade não é a reescrição, mas o momento de decretar o estado definitivo de uma obra. E mais que o momento definitivo, dificuldade para o poeta é o instante do nascimento do poema, de sua gestação, pois, depois de sua primeira redação, algum caminho está definido. Agora, quando tempo este caminho exige a presença do poeta, é uma incógnita. Eu gosto de reescrever. E acredito que nunca perdi com isso.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
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Eu falaria sobre todas as nuvens, sobre todos os poetas, sobre todos os gravetos, da utilidade e da inutilidade de tudo que podemos enxergar...
Não sou poeta,
ResponderExcluirmas concordo contigo!
Respondida a pergunta!
Obrigado
;)