Novo livro de Fernando Pessoa acaba de ser resgatado de seu espólio por Richard Zenith — Barão de Teive, A educação do estóico, pela editora A Girafa. O barão de Teive pode ser consideração outro heterônimo, aquele que não foi completamente desenvolvido por Fernando Pessoa, mas suficiente para expressar aqueles furos negros da alma, que a pessoa se nega a assumir com a própria individualidade. É através do barão de Teive que Fernando Pessoa nega a moral, pois reconhece que ela impede a completa realização individual, já que a ação não é totalmente imaculada. Mas, apesar de suicida, é um heterônimo que quarda forte personalidade diante da vida: "Tive, sim, esperanças, porque tudo é ter esperanças ou é morte". É um livro incompleto, rascunho, mas um rascunho que qualquer outro escritor gostaria de deixar para a posteridade.
Mais algumas frases:
Só tem parte na vida real do mundo quem tem mais vontade que inteligênia, ou mais impulsividade que razão. "Disjecta membra" disse Carlyle, " o que fica de qualquer poeta, ou de qualquer homem" (...) Quem usa, que use, quem abdica que abdique. Use com a brutalidade do uso; abdique com a absoluteza da abdicação. Abdique sem lágrimas, sem consolações de si mesmo, senhor ao menos da força da sua abdicação. Despreze-se, sim, mas ao menos com dignidade.
(Disjecta membra - esta expressão significa «membros despedaçados». Corresponde à expressão de Horácio (Sátiras, I, iv, 62) «disiecti membra poetae» (os membros do poeta despedaçado). Costuma referir-se aos fragmentos de uma obra literária que não esteja organizada coerentemente (obras aforísticas, por exemplo).
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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário