5 de janeiro de 2014

Cova

Se te enclausuras no teu quarto
deixas o vazio num café.
Se te encontras entre as tendas
não te sigo quando vou pela ravina.

Se te segredas na luz de um cinema,
não te vejo na água movente de um lago.
Se com um acompanhante ris ao virar a esquina,
não apalpamos o fruto em um pomar.

Enquanto orientas o motorneiro,
um touro roça o ventre enquanto é sol.
Enquanto é claridade em teu dorso
um estrangeiro aguarda num entreposto.

Ensinas o vazio numa fronteira.
No diálogo mudo que se retrai num cárcere.
A umidade vai no crescente império
enquanto fascinas numa outra praça.

Perdido consolo, desconsolado refrigério
de não plantarmos a semente na mesma cova!

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