11 de janeiro de 2014

Leo Barbosa






Salomão, li seu livro "Vagem de vidro". Impressionado com o manejo seguro da palavra que você possui. Sua poesia é dotada de precisão. As palavras soam fortes e você faz uso de recursos pouco comuns na maioria dos poetas, o que te confere uma voz muito peculiar, ainda que, naturalmente, carregue traços de clássica expressão.
Fiquei estupefato ao ler um pouco da sua história, do quanto você perseverou diante de tantos obstáculos e da sua itinerância. Diante desse farto material de vida, sua poesia não poderia ter motivação maior. Por isso que você é um poeta de fôlego.
Tua poesia também se mostra muito madura porque passeia por pelo viés crítico-político-social sem soar piegas, o que é extremamente difícil de ser feito. A linguagem seca, que tem como ambiente o rural/campestre é um tanto semelhante ao João Cabral de Melo Neto, mas você consegue ser mais sensível, sem se mostrar exacerbadamente cerebral. Isso é bom. Quer dizer que você se entrega à poesia sem cair nas sedutoras esparrelas do verso as quais somos comumente conduzidos quando escrevemos em primeira pessoa.
Na sua poesia não há lugar-comum e linguagem e cenário formam um simbiose bem realizada.
Lendo o outro volume, o “Safra quebrada”, é nítida a necessidade que havemos de ter em revisitar sua poesia. Não são herméticas, mas nos chamam a releituras porque as metáforas possuem a multiplicidade de sentidos que não cedem a uma facilidade pueril cometida por tantos poetas contemporâneos. É preciso calma para passear em seus versos. Você é exigente, então seu leitor também deve ser para que possa assimilar suas construções sintático-semânticas e filosóficas, a exemplo deste verso de “Inquietude”: “Inquietante é quem pune/ ávido por cometer o crime” ou “Somos desconhecidas brenhas/ de onde sai a fonte limpa/ Malditas luzes para esclarecer/ aquilo que já somos puros”.
Sua poesia areja a seara poética contemporânea, que, em sua maioria, quando não está carente de referências, perde-se em uma torre de babel de estilos e formas. Eis o seu mérito: de não estar em nenhuma dessas tendências.

(*) Leo Barbosa, professor e poeta, autor de “Lutos Diários” (Ed. Patuá, SP, 2013), dentre outros, é colunista do Correio da Paraíba (escritorleobarbosa@hotmail.com). Poeta novíssimo, com voz fortíssima. Asseguro que, se progredir dentro da linguagem que praticou nos dois livros que tive acesso, certamente será um dos poetas que irá nortear o futuro na poesia brasileira. Para quem está com 25 e poucos anos, tempo ele tem para isso. Agradeço de coração a leitura que ele fez de meu livro. É uma impressão de quem domina a compreensão da poesia e seu fazer.

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