A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
24 de dezembro de 2008
Apanhei ao acaso o romance “A hora da estrela”, e Clarice Lipector que, ao escrever esse livro, é ela mesma ou outro personagem masculino que constrói, num gesto quase filosófico ou de manifestação santa, o ápice de beleza a partir de uma vida simples.
E há uma frase nesse livro que vai servir para eu saudar os meus amigos neste fim de ano: “tudo que amadurece pode apodrecer”.
Portanto, não vamos nos preocupar em ser perfeitos ou em nos realizar completamente. Mas vamos imitar Julien Sorel, do romance “O vermelho e o negro”, de Stendhal, que está preocupado em ser feliz. Talvez tenha vindo deste romance a expressão: “estou morto de felicidade”.
Vamos simplesmente ser felizes, dentro do tédio, do torpor, dentro da gala se a gala a nós se apresentar.
E, para completar a felicidade, ler pela obrigação da felicidade, pois há felicidade no instante em que o conhecimento nos fricciona — ler um destes três livros:
1) A hora da estrela, de Clarice Lispector. Meu deus — são menos de cem paginazinhas, de total aventura da beleza e do pensamento.
2) O velho e o mar. Hemingway construiu a sua fábula num momento de total desespero, de falta de outro imaginário, quando teve uma recaída de produção. Sempre as quedas permitem essas fatais fábulas da obviedade que nuca vemos. O velho Salvador nos mostra que a felicidade é cumprir a tarefa. Toda vez que leio as menos de cem páginas deste grande livro, meu coração se contrai.
3) Moby Dick. Meu velho Melville, só mesmo você existindo para existir Camus, Nietszche, a filosofia do absurdo. Temos de ter um adversário, uma baleia branca com que lutar para que o tédio não nos destrua o fígado.
E assim já matei o tédio da insônia, com este texto baleia-branca, para saudar os meus amigos. Não nos entediemos, em 2009, a ponto de xingar o garçom, o motorista, o irmão. Xinguemos, antes, nós mesmos, por não compreendermos o tédio, o rancor. Deixemos o outro fazer o seu trabalho, a ter a sua aventura, a sua traição. Sejamos humanos, incompletos e compreendamos que o outro também é incompleto, que o outro está em seu lento e errático amadurecer. Compreendamos que o eu e o outro ainda não se entrelaçam em definitiva completude. Compreendamos que a incompletude faz a felicidade, pois torna possível a interminável aventura de combater a escassez de lugares no mundo. Quem se achar completo, o bom, o bam-bam-bam — está pronto para a morte. Eu, mesmo, quero morrer o mais tarde possível, deixando alguma vacuidade de incompletude para que outro possa vir preencher com o seu pouco, com a sua escassez de completude.
Não amadureçamos tão rápido para não apodrecermos. Aproveitemos um pouco mais de sol, em 2009, como Salvador e Ahab.
@ Salomão Sousa
21 de dezembro de 2008
Não sei do que mais gosto no romance "A hora da estrela", de Clarice Lispector. Romance? Novela? Desespero? A dedicatória é uma trava na garganta da beleza. O final é uma confissão da autora, ao abandonar sua personagem. Uma confissão de amor à vida. Será que o filme "Gosto de cereja" não saiu da frase final de Clarice: "... por enquanto é tempo de morangos", portanto é inútil a morte. Eu não queria, mas vou registrar a frase que mais gosto neste livro-confissão, quando Macabéa está passeando com o namorado, que é torneiro ou mecânico (não me lembro, só sei que não é presidente), e ao passar diante de uma loja de material de construção com os produtos expostos, sem o que dizer, ela faz a melhor declaração de amor da literatura brasileira: "Gosto tanto de prego e parafuso".
Em alguns momentos exorbitamos inconscientemente do amor. Noutro dia, ao ler a crítica literária de uma jornalista por quem tenho grande estima, ela exorbitou do amor. Ao comentar o livro "Danúbio", de Cláudio Magris, ela soltou uma frase que exorbita o amor. Pois sei que ela gosta da e ama a literatura brasileira. Para amarmos um livro não precisamos desamar os autores que não o escreveram. Ela disse que não tivemos nenhum autor brasileiro com cultura, sei lá, suficiente para escrever livro idêntico.
Temos de nos lembrar que as culturas européias e brasileiras são completamente diferentes. Não temos um Danúbio cercado de milênios de culturas, mas um Tocantins, um São Francisco ou um caudaloso Amazonas cercados de milênios de mitos e de primitivismo, inclusive do primitivismo crítico. O nosso "Grande sertão: veredas" é o "Danúbio", pois é na periferia do São Francisco que ele acontece. "Os Sertões" também acontece na periferia de São Francisco.
Adorno, em sua "Estética", diz que nos países em que ainda existe primitivismo ainda há esperança para novas possibilidades culturais. O Brasil é rico em possibilidades e de realizações. Eu me emociono com a poesia-rio de Manoel de Barros, da poesi-rio de José Godoy Garcia, da poesia-rio de Thiago de Mello, aai-ai "Iararana" de Sosígenes Costa!!!!
Não podemos exorbitar do amor.
10 de dezembro de 2008
Já pode ser conferida dentro projeto (de forma digital) a antologia Deste Planalto Central — Poetas de Brasília (basta clicar duas vezes no nome da antologia). Aqui você pode conferir na íntegra a antologia que organizamos, em formato pdf, para a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, organizada pelo Biblioteca Nacional de Brasília.
3 de dezembro de 2008
Em nome de todos que acusaram as razões para a ausência, destaco a da poeta Gardênia Maciel em seu blog. Postou um poema de nossa autoria e concluiu em seguida: “Aproveito aqui e peço desculpas ao amigo por não ter ido prestigiar o lançamento de seu livro ontem aqui em Brasília. Contratempos amorosos…”
Já nos encontramos e ela já está com meu livro, no qual eu disse na dedicatória que os contratempos sempre geram tempestades e ausências. Justo!
30 de novembro de 2008
Brasília quebra o bloqueio + uma vez. acha a lâmina de quebrar os muros que ilham a sua cultura.
robson correa de araujo chega com sua acha mas fuerte pela ed luminuras através do hipertexto BR INFINITA
ele anuncia que é romance. e vale o que o autor diz dizia mário de andrade e silenciam a falsa irmandade
outros diran: confession! su mission esta dicha!
felicidade para todos nós: vejam e vayan ao lançamento para ajudá-lo a nominar este texto hiper hupa hupa:
28 de novembro de 2008
21 de novembro de 2008
9 de novembro de 2008

Já está programado o lançamento de meu livro
Momento Crítico.
Data: 2 de dezembro, uma terça-feira, a partir das 18h30
Local: restaurante CARPE DIEM (104 Sul, Bl. D, lj 1 - Brasília - DF)
Informações: (61) 3344-3738 ou salomaosousa@yahoo.com.br
Texto da orelha, que esclarece o propósito do livro:
Em edição com recursos captados junto ao Fundo da Arte e da Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, MOMENTO CRÍTICO reúne parte da produção crítica de Salomão Sousa, publicada em jornais e no Chuço — zine xerocopiado que o autor manteve por mais de dois anos
Ao contrário do noticiado anteriomente,
não foi possível usar a foto do Robson Corrêa de Araújo
como motivo da capa. Perdão, amigo, por ter gerado a expectativa e não ter conseguido um arranjo com o seu belo trabalho. Faremos ainda muitas viagens juntos.
15 de outubro de 2008
11 de outubro de 2008

15 de setembro de 2008
já podem ser consultadas no meu blog: www.salomaosousa.blogspot.com
Acabo de reencontrar-me com um poema-circunstância
de José Godoy Garcia, dos tempos da edição do Chuço.
Para quem leu o Chuço e queira relê-lo
ou para quem não conheceu o meu zine,
deixo o pequeno poema aqui:
Salomão dos Cantares
Ele toca as moendas dos dias.
Solidário como as chuvas, molha de poesia
o pobre mundo. Conselheiro,
conciliador, reparte consigo as dores
em cima das feridas alheias. Ri
beijando as verdades mais simples
No entanto, parece frio e sonso.
Passa pelas mulheres mais belas
nem as vê, sacode a poeira do dia
no terno universo de seus livros.
Eis a síntese maravilhosa de seu ser:
sua família, seus amigos, seus livros.
José Godoy Garcia
2 de setembro de 2008

antologia organizada por
Salomão Sousa
Capa: recorte de pintura da poeta
Xenïa Antunes
20 de agosto de 2008
sobre a necessidade de montagem do poema acima da datação do real:
Esqueceu o vértice de uns ombros,
da prata de uns umbrais.
Da possível palmatória na hora do crime,
das algas já em águas claras.
Não se lembrou do instante de inclinar
a palavra — a palavra que liberta o escravo.
Esqueceu de enfiar outra saliva
na travessia de uns umbrais.
Abandonou o sopro
diante do que dizer.
Se achou florida a calêndula,
deixou-se lêndea escrava nas escarpas.
Estão fundadas as ruínas de calar .
8 de agosto de 2008
Prezado Salomão Sousa,
na mesma ocasião em que não poderia comparecer à sua palestra na ANE, felizmente que, presenteado pelo poeta A.C. Osório com o vol. 18 da Revista da Academia Brasiliense de Letras (2005), no dia da posse do Taveira, seu belo texto atemporal A perene aurora de José Godoy Garcia a mim chegou. Li-o comovido, apreciando o desvelar contínuo de um homem (amigo), de um autor e sua vasta obra, provavelmente fruto de um grande poeta e fundo pensador da vida, regido pela natureza e suas imprevisibilidades.Portanto, continuando a ser seu leitor, aprendi um pouquinho mais sobre a poesia goiana e sabedoria de um grande poeta: "perene aurora". Ele, capaz de ensinar como Sêneca propunha, que a felicidade consiste em se adaptar à natureza ( "a poesia é tudo o que pássaro pensa da chuva") para manter um equilíbrio que nos deixe a salvo das vaidades da fortuna e dos impulsos do desejo que obscurecem a liberdade.Meu abraço fraterno e cumprimentos pelo seu fidelíssimo canto de bem querer, Donaldo Mello
7 de agosto de 2008
Enquanto isso, termino a leitura do romance "Hard Times", de Charles Dickens, na edição espanhola da editora Catedra. Este romance foi traduzido uma única vez no Brasil — tamanha é a indiferença do mercado editorial entre nós. Na Espanha, são doze traduções, quase sempre com três edições cada uma delas. No mínimo. É uma crítica ao Utilitarismo, às relações humanas, ao confronto entre patrão e empregado. São temáticas amplas, mas interligadas. Se hoje não temos o Utilitarismo, temos o Egocentrismo — que vem a dar no mesmo —, pois o indivíduo se preocupa excessivamente consigo, com o enriquecimento, solapando as relações sociais. "Tempos duros" — talvez fosse uma boa tradução — ou melhor: "Época Dura Nestes Tempos".
27 de julho de 2008

Quebramos o cronômetro da Sherle.
Areia, sombras e sombras e sargaços
— perdidos nalguma corrente,
éramos aves desgarradas
frente às falésias.
Quebramos a ansiedade ao ver
os marcos antigos dos descobridores.
Ouvidores do rei
e os despachos das arcas do tesouro.
Restos de uma réplica de nau
que só poderia estar sem porto.
Quebramos o medo dos monstros de lama
e das criaturas más inventadas ao Norte.
Ex-votos com mãos estendidas,
dedos longos, cabelos espremidos
no asfalto, e o mar ainda
entre as estacas.
Quebramos a rigidez das faces.
Outra cor ao corpo, rotas
de desovar. Pó de ostra
nas garrafas. Outra onda
vem — junto às crianças se desdobra,
quase sem cor —, se é puro o sol,
se é o despudorado sal.
No mangue movemos os pés
de nosso animal.
Quebramos o tormento
de repetir a mecânica de andar.
Ir é outro prazer. Ouvir
outras palavras, entre os dedos
areias, cordões coloridos, quase apanhar
as finas barbas dos tubarões e das enguias.
Narinas moles respiram água.
Quebramos — e acabam as avenidas
e as orlas. Arrastam-nos as correntes
de volta às Antártidas.
16 de julho de 2008
Agradeço a Yuri a escolha de meu nome para o trabalho.
Deixo aqui o email que el me mandou com o trabalho:
Yuri Soares Franco
Estudante de História da UnB
14 de julho de 2008
Falei sobre o professor Edmar
Do seu “enredo e personagens”
Dos seus traços marcantes
Que perseguiram os meus
Iluminando-os com sua sabedoria.
Com Rubens Vieira
Lembrei-me do antigo cinema
Da lida diária da pequena Bonfim
Quando um "tropel de emoções"
Invadiu nossos corações.
Com Antônio da Costa
Revivi a rua comprida e estreita
Que foi cúmplice das nossas brincadeiras
De infância e adolescência.
Dividi a minha saudade
Com Inácio José de Paula
O vi crescer batalhador
E cheio de esperanças
E na cumplicidade da pequena rua
Que fazia-nos irmãos.
Em “Memórias”
De Osvaldo Sergio Lôbo
Senti-o carente
De amor, inocente
E uma ponta de saudade
Bateu forte no peito
Oh! Meu glorioso Salomão
Quando nascer de novo
Quero ser como você
Quero fazer uma “safra” de livros
E nas “horas vagas”
Deleitar-me na “moenda dos dias”.
Chorei com Geraldo Majela
As “lágrimas do ipê”
Sofri pelo poeta
Sem fama
E sem cama
E que chama por alguém
Que não o ama.
Se “recordar é viver”
Vivi com Getúlio Silva
Os encantos da primavera
Que ele descreveu e amou.
Gessilma no aconchego de sua alma
Distribuiu migalhas de sabedoria
Em páginas de ouro.
Com o Pascoal que era poeta
Comecei a arte de sonhar.
Do Pascoal que era jornalista
Recebi a triste notícia:
A morte do pipoqueiro.
Com o Pascoal que era professor
Aprendi a arte de escrever.
E Maria das Dores
Sempre na janela,
Em sentinela
Escondia versos no coração.
André Leones
Nobre por excelência
Nas passarelas literárias
Nosso orgulho.
Hilda,
A pequena ruiva de cabelos dourados,
Hoje uma grandeza na literatura
A quem muito admiro.
De Élson Gonçalves
Guardo a “família feliz”
Com “esteio de aroeira”
Que eternizou suas marcas
Em “labirintos de mim”.
De Coelho Vaz
Roubei alguns poemas
E enfeitei a simplicidade das minhas páginas
Com a preciosidade dos seus versos.
Curvo-me diante do eterno Americano do Brasil
Para dizer-lhe que na minha pequenez
Sinto-me muito orgulhosa
De fazer parte da sua terra e de sua gente.
De José Sêneca Lobo
Guardo no “gotejo do passado”
As marcas indeléveis da cidade de Bonfim
Através das suas letras inesquecíveis.
3 de julho de 2008
O DESVIO
A mim pouco me importa
aberta ou fechada a porta,
vou entrar.
sendo amada ou não amada:
vou amar.
eu mesma e o sentimento,
quanto!
se a tua amada é doente,
se a tua esperança é morta.
E me importa muito menos
se aceitas solenemente
a nossa vida parca e torta.
Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.
A mim pouco me importa
se a lira quebrou a corda:
vou cantar.
E pouco me importa estar
no picadeiro do circo:
vou rodar.
Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!
A mim pouco me importa
se estamos todos presos
por uma invisível corda.
E me importa muito menos
sermos todos indefesos
ante o destino que corta.
Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.
10 de junho de 2008
O poeta Lívio Oliveira, de Natal (RN), que conheci casualmente aqui em Brasília numa loja de discos, e que acabou se revelando um amigo de imensa generosidade, acaba de publicar uma entrevista comigo. Ela pode ser conferida no seguinte endereço:
Trata-se de uma das páginas de literatura mais respeitadas do Nordeste.
31 de maio de 2008
Estive no lançamento de um livro de poemas. Ontem à noite. Um livro de poemas ou um livro de nada, de letras, de manchas de silêncio. Alegra-me estes escritores que confiam nos seus livros como se fossem as suas brechas de diálogo, já que seus livros nascem tão inúteis. Tenho dó das palavras que estão nestes livros, já que usaram tão bem a vida dos autores e os autores deram-lhes vida tão precária. As palavras também querem a sua glória.
Enquanto aguardava na porta do hotel, com o pouco silêncio rondando a portaria onde estávamos sentados, li um poema de Ronaldo Costa Fernandes para um garoto e seus pais. Era a minha maneira de esquivar-me de um bêbado, da sua litania gloriosa — todo bêbado eufórico é glorioso como a glória de todo livro de poemas ridículo. Era um penetra no lançamento. Ele não queria sequer a bebida fraca que era servida, pois trouxera seu conhaque de uma barraca clandestina do estacionamento. Não queria nenhum livro, saber se existe escritor, se o preço do livro no país é exorbitante, mas apenas descer de alguma torre, esbarrar em alguém com seu passado de glória. Um bêbado se lembra que foi dono de todas as terras de Brasília e que deu todas estas terras aos novos habitantes. É uma glória dar as próprias terras para o surgimento de uma nova Babilônia! E glória maior, depois ser amigo de todos os guerreiros e príncipes desta nova Babilônia.
Não. Os seguranças e organizadores da festa fazem conclave para ver se é necessário retirar o bêbado. Não. Sugiro que ele permaneça ali com a sua glória. Seria inútil arrancá-lo para o frio, pois muitos outros teriam de ser retirados do recinto. Quantos não estavam ali se jactando de suas glórias inúteis?
Mas toda essa lenga-lenga gloriosa é para reler o poema do meu amigo:
A TORRE DO ABISMO
Ronaldo Costa Fernandes
Aqui estaremos seguros da vida.
Nada nos atingirá — nem falésia
nem miséria nem a ambição dos homens.
Mais tarde subiremos à torre
e de lá olharemos os homens
e diremos que não fugimos
ao pasmo do abismo,
apenas proferimos o risco do silêncio.
E tocou-me, este poema, ainda mais do que antes. Ele nos lembra que estamos sempre fugindo, querendo subir na torre onde nada nos atingirá. Mas, sobretudo, nos lembra que — por mais que nos encastelarmos ou nos "entorremos" — o desastre ainda é maior. Se não podemos ser atingidos pelo desastre também não podemos ser atingidos pela glória. Só pode ser atingido pela glória aquele que se arrisca, nos rés do chão, ainda que só possa oferecer o desastre de um livro idiota, ou a bebedeira que engrandece todas as mentiras. Sim, é nos rés do chão que temos de nos arriscar.
27 de abril de 2008
"Numa biblioteca estão todas as paixões e vitórias humanas. A cidade que não tem uma biblioteca deixa seus habitantes com menos possibilidades de ampliar suas paixões e suas vitórias, pois a leitura amplia a força imaginária, a resistência para a vida. A cidade que tem uma biblioteca está ao lado de todas as cidades do mundo. Ai! numa biblioteca nenhum homem está solitário!"
12 de abril de 2008

"Há certos dias em que acordo com uma esperança demencial, momentos em que sinto que as possibilidades de uma vida mais humana estão ao alcance de nossas mãos." Quando se fala tanto nos primeiros parágrafos dos grandes livros, lembro-me desta frase de Ernesto Sábato, do pequeno livro de ensaios A Resistência, que acaba de chegar às livrarias pela editora Cia. das Letras.
Sou uns dos admiradores de Ernesto Sábato. Estão no meu sangue aqueles autores que injetam humanismo nas suas metáforas. Não é à-toa que está ali na primeira frase do livro "a vida mais humana", pois a vida às vezes se emporcalha na mercantilismo, na frieza de coração... Já que o livro está agora em português, tomemos um pouco de humanismo, lendo-o. Talvez eu até vá relê-lo. Trata-se de um pequeno coice no egocentrismo.
29 de março de 2008
Uma fé sem bomba escondida no casaco
Vieram parar bem aqui
entre os eixos que fazem a paz
Protege a minha porta
a serenidade sem lama
Sinto-me sem fronteira
se extintos os negociantes
com os aros de impedir nossos pés
Nossas mãos já se aproximam
Os lábios não se disfarçam
com o cuspe e com o chulo. Sinto.
Sinto que não sou eu que me enche
Enchem-me uns lábios, uma idéia
um corpo vindo sem fronteiras
Sinto que chegou sadio
o homem que come comigo
o meu o pão e planta comigo o desejo
Sinto que enche de força os meus ossos
Uma fidelidade me beija
Tão perto um Tibete sob meus pés
Beijo o calor de seu cânhamo
o rastros de seus cães
Sacio-me
na fidelidade de seu cântaro
@ Salomão Sousa
18 de março de 2008

Por mais que se queira o oásis,
Nada irá conter o determinado,
A implacável têmpera da areia.
Quando acordamos, de imediato,
A clareza: foi tão somente sonho.
Não há sereias.
Há anos, na montanha, um monge
Acredita ter firmemente aprendido:
Vencer é não lutar.
De volta ao mundo, às ruas,
Ao calor dos sentidos, ei-lo de novo:
Ressurgente, ereto: o desejo.
9 de março de 2008
da história portuguesa.
Impressionante a peça denominada "cupa",
que os antigos deixavam dentro da tumba.
Parece um pesado aríete de Pedra,
taLVEZ para arrebentar as portas do paraíso.
Ainda pesquisam seu significado.
Enquanto isso, deixo aqui um poema
em que me valho de sua simbologia
para registrar a minha inquietação
de estar presente no Universo.
Versos, portanto, de inquietação.
e elas se oferecem limpas
a borduna lhe apetece
e mais lhe apetece
quando o repouso de um homem
oferece-lhe o beijo na face
Se é mansa a oração
e brilha quieta
a estrela no universo
pede-me a borduna
o inimigo ao desabrigo
de uma paz que o anime
Não pede a abertura da trilha
ou o ajeito de uma telha
Pede-me a borduna
de arrancar a marca de sangue
que o satisfaça em seu abrigo
ofereço o sangue de animar a festa
8 de março de 2008
e para as urnas faltará madeira
No melhor recorte de pedra
já esculpida a minha cupa
Irei sem exércitos, sem armas
com as culpas que fiz e herdei
Sem água, punhos de marfim, elmos
na cúpula de silêncio
só com meu recorte de pedra
Sem guilhotina, horda de dementes,
engendro grafias para que a sabedoria
não seja só outro grão na areia
No mostruário, confundem-se os ossos
expostos com ostras e oferendas
Desconheço se é de um filho
ou de uma amada ou do inimigo
os ossos que levo por meus
No último dia não virá
a criança que sapateava
em espasmos de alegria
Saltitava sobre o tablado
sobre os entrelaces dos guerreiros
Com os ossos de outros ou meus,
terei de mover a minha cupa,
fazê-la o aríete de arrebentar
os portões da fortaleza
Na cupa não haverá outras inscrições
Na fortaleza já se apagaram os últimos frisos
Somos — eu e os guerreisos,
eu e os ossos de uma amada, e do inimigo —
só os entrelaces na tapeçaria
em que saltita a criança dos pequenos guisos
4 de março de 2008
Sempre me emociono ao ler Sabato. Nele não há guilhotina, não há tina de merda, ou a erva da idiotice. Nele há humanismo.
Em uma homenagem a Che Guevara, na Universidade de Paris, ele lembra:
" Porque a sua morte tem disso: o valor de um símbolo. E nesta sociedade racionalizada que desertou, esqueceu e menosprezou os símbolos mais valiosos que o fervor e o sacrifício, pode encontrar em Guevara, com efeito, um romantismo tresloucado. Mas é precisamente esse romantismo, é justamente essa imagem heróica e solitária a que desperta a esperança e a coragem e a fé em milhões de jovens generosos nos quatro cantos da terra."
25 de fevereiro de 2008
ALTIMAR PIMENTEL

O corpo está sendo velado na Academia Paraibana de Letras, na Rua Duque de Caxias, em João Pessoa. O enterro será às 10h desta sexta-feira, no cemitério de Santa Catarina, no bairro Treze de Maio, na Capital paraibana.
Altimar Pimentel nasceu no dia 30 de outubro de 1936, na cidade de Maceió, AL. Concluiu o curso de Licenciatura em Letras na Universidade Federal da Paraíba, em 1971 e Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), fez bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo, em 1976.
Em 1978 fez curso de especialização em Direção Teatral na Federação das Escolas Isoladas do Rio de Janeiro e na Universidade Federal da Paraíba. Dedicou boa parte de sua vida ao teatro.
Como teatrólogo é autor de inúmeras peças, muitas delas consagradas nacionalmente, entre elas: “Alamoa”, adaptação de “Coiteiros”, “Cemitério das Juremas”, a “Última Lingada”. Presidente da Comissão Paraibana de Folclore, Altimar Pimentel publicou 17 livros sobre temas folclóricos. Dedica-se, também, à história paraibana, com vários livros publicados, o último dos quais – Cabedelo – alcançou grande receptividade nos meios culturais.
Exerceu inúmeras funções, entre elas: diretor do Teatro Santa Roza (João Pessoa); na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), além de professor, foi diretor do Departamento de Extensão Cultural da Paraíba, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Documentação de Cultura Popular (NUPPO) e assessor cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários; diretor da Rádio Correio da Paraíba, assessor cultural do Instituto Nacional do Livro (Rio de Janeiro), assessor administrativo da Câmara dos Deputados (Brasília, 1980), membro do Conselho Estadual de Cultura da Paraíba (1963) e Membro do Conselho Fiscal e sócio fundador da Associação dos Dramaturgos do Nordeste e Membro da Academia Paraibana de Letras."
20 de fevereiro de 2008
ORAÇÃO DO MUTILADO
Lourdes Teodoro
o verde em mim
é um remoto ponto escuro.
Vejamos também o poema Remorso, do saudoso José Roberto de Almeida Pinto, que hoje é embaixador em Honduras:
REMORSO
José Roberto de Almeida Pinto
Nesta Brasília, calada
nesta sala assexuada
Nesta hora desgraçada
Eu sou somente remorso.
Aço preto na testa,
Acre sertão na garganta,
Resina de esgoto nos olhos,
Eu não sou mais que remorso.
Eu não sou mais que a vontade de sair correndo
estraçalhar a cara no primeiro poste, o homem
que um dia sonhou ser bom, a besta
que quer fugir e não pode
que quer berrar e não pode
que quer, meu Deus, ser perdoado.
Nesta véspera de sábado
Nesta Brasília silente
Há festas, boates, mulheres.
Roendo osso, remorso
Nesta sala indiferente.
Nesta hora desgraçada
Há somente o homem em face de si mesmo e náusea
O homem finalmente em face de si memso
O atônito covarde.
Para quem viveu, como poeta, os anos de ditadura e de resistência, a poesia não foi apenas um gesto de construção. Apesar de reconhecer a descabida terminologia para "Poesia engajada", acreditamos, no entanto, a necessida de uma 'Estética de Participação". O homem dentro de si mesmo, eternamente, acaba jogando também a arte dentro de um labirinto de inutilidade. Só a beleza é muito pouco.
5 de fevereiro de 2008
4 de fevereiro de 2008
o louco grita próximos aos escritórios
procura por lentes de extinguir
os empórios da febre
a boca pronta para a mordida
já que o louco não é um bicho
talvez pudésseis lhe dar um prego
o louco martelaria com cabeça
afunelaria o vão na parede
por que não oferecer
os lábios em que ferrar a mordida?
em que acreditas, se não vês o louco?
talvez acredites no equilíbrio do pássaro
ou em qualquer outra insânia
veja na bifurcação da Divinéia
ou no rouco molejo da cama
da rua que tu achas que existe
a mãe do louco bate nas portas
com chocalhos de escaravelhos
leva dádivas de pães caseiros
e em seguida também enlouquece
blasfema ameaça à distância
com o muque e facões velhos
cansados da insanidade
se deixam debaixo dos oleandros
e divertem-se com o sabiá-da-terra
riem enquanto pássaro
abaixa e eleva a cauda
e espreita aquela paz de mãe e filho
se há pregos velhos
colecionam-nos esfuziantes
em montes com cabeça e sem cabeça
se há frutos colhem-nos
ofertam-nos aos transeuntes
calados os gritos do louco
enquanto procuras o prego?
enquanto andas numa rua que inexiste
ah! diálogo debaixo dos oleandros
pura penugem num caule em Anshan
@ Salomão Sousa
31 de janeiro de 2008
o bem-te-vi na ponta da piteira
A sua geografia ao longe
em luares espalmados de besouros
O suicida se esquece em meus braços
A sua geografia de lutas secas
ainda que se enfureça quase dentro
em cio
exangue e em fúria
um touro ou traça
O suicida amontoa cobre nos pulmões
telas de vidro
bestas famintas de mofo cítrico
Não entende que são reais
os pulgões que o comem pelas bordas
Sem nada para compreender
não lhe resta para comer
nem besouros ou libélulas
A geografia do suicida
não assinala nenhum luar de festa
@ Salomão Sousa
27 de janeiro de 2008
Pouco tempo para raciocionar,
mas ainda assim
pude conversar com a minha visita mais assídua predileta:
o poeta João Carlos Taveira.
E também, após assistir trecho de um filme de avant-guard,
imaginar um possível título de livro de poesia:
"Treino para enlouquecer".
E também, em tempos de febre amarela, escrever um miniconto para o Robson Corrêa de Araújo.
"O pernilongop entrou no quarto com Tcheckhov."
25 de janeiro de 2008
Dele são os poemas amorosos que ainda tolero ler,
sem sentir tão ridículo.
DÁ-ME TUA LIBERDADE
Pedro Salinas
Tradução: Salomão Sousa
Dá-me tua liberdade.
Não quero tua fadiga,
não, nem tuas folhas secas,
teu sonho, teus olhos cerrados.
Vem a mim a partir de ti,
não a partir do teu cansaço
de ti; quero senti-la.
Tua liberdade me traz,
assim igual a um vento universal,
um odor de madeira.
remotas de teus móveis,
um monte de visões
que tu vias
quando no alto de tua liberdade
já cerravas os olhos.
Que bela tu livre e de pé!
Se me dás tua liberdade me dás teus anos
brancos, limpos e agudos como dentes,
dás-me o tempo em que a gozavas.
Quero senti-la como sente a água
do porto, pensativa,
nas quilhas imóveis
em alto mar. A turbulência sacra.
Senti-la,
vôo parado,
assim como a quieta várzea
sente a rama
onde vem a ave e pousa,
o ardor de voar, a luta pertinaz
contra as dimensões azuis.
Dencanse-a hoje em mim: vou gozá-la
com um tremular de folha em que descem
gotas do céu ao solo.
Quero-a
para soltá-la, somente.
Não tenho cárcere para ti em meu ser.
Tua liberdade te guarda para mim.
Soltarei-a outra vez, e pelo céu,
pelo mar, pelo tempo,
verei como parte para seu destino.
Se o teu destino sou eu, ele te espera.
"Há um pernilongo em meu quarto. De onde terá vindo?"
21 de janeiro de 2008
Neste dia em que acabam as minha férias,
acordo com a sensação de que falo
todas as línguas do mundo,
menos a que cresceu comigo,
que deu voz às minhas alegrias
e realidade ao universo em que sempre vivi.
Não consigo me comunicar com meus familiares,
com a realidade que me circunscreve,
com a anarquia dos meios de comunicação,
com.
A poesia é uma procura — de um lugar, de uma ordem,
de um Reino, ou mesmo de um desastre infernal
a nos comer eternamente o fígado.
Todo homem está numa procura. De si mesmo, de um lugar.
A procura dos limões para o olhar,
dos girassóis para o sol das manhãs.
Uma frágil mão para fortalecer a nossa frágil mão.
A partir da tradução de Octavio Paz,
deixo aqui a minha versão do poema que Czeslaw Milosz
dedicou ao poeta hindu Raja Rao,
que trata desta universal procura.
Raja Rao, como gostaria de saber
a causa desta enfermidade.
Anos a fio não pude aceitar
que onde estava era meu recanto.
Em outra parte estava meu lugar.
A cidade, as árvores,
as vozes dos homens,
não eram, não estavam.
Vivia num eterno partir.
Noutro lado havia uma cidade real,
árvores reais, vozes, amizade, amor, presenças.
Atribubue, se quiseres, este caso peculiar,
à borda da esquizofrenia,
à messiânica esperança
de minha civilização.
infeliz na república:
numa, suspirava pela liberdade;
noutra, pelo fim da corrupção.
Construía em minha alma uma cidade,
permanente, às pressas desterrada.
Por fim aprendia a dizer: esta é minha casa,
aqui, diante da chama do crepúsculo marinho,
nesta margem à beira de tua Ásia,
nesta república moderadamente corrompida.
Raja, nada disto me curou,
de meu pecado, de minha vergonha.
A vergonha de não ser
aquele que pude ser.
A imagem de meu ser
cresce gigantesca no muro
e esmaga minha sombra miserável.
Por isso acredito no Pecado Original,
que não é outra coisa senão a primeira
vitória sobre o eu.
“Atormentado pelo eu e pela traição”:
te dou, como vês, um fácil argumento.
Ouvi que falavas em libertação:
idêntica à de Sócrates
a sabedoria de teu guru.
Não, Raja, eu devo começar
a partir do que sou.
Sou os monstros que habitam meus sonho,
os monstros que me ensinam quem sou eu.
Se estou enfermo, quem pode dizer
que o homem é uma criatura sã?
A Grécia tinha que perder, sua pura inocência,
tinha que se tornar mais intensa nossa agonia.
Precisávamos de um Deus que nos amasse,
não na glória da beatitude: em nossa fraqueza.
Não há alívio, Raja,
meu destino é agonia e luta,
abjeção, amor e ódio a mim mesmo:
Orar pelo Reino Eterno e ler Pascal.
12 de janeiro de 2008
Estamos seguindo para Silvânia para encontro de familiares e para uma busca de alguma trilha de nossa raiz genealógica.
4 de janeiro de 2008

Neste início de férias, tenho aproveitado o tempo para ver alguns filmes.
Sem ler nenhum crítica antecipada, vi 'Mutum', da cineasta brasileira Sandra Kogut. Trata-se da livre adaptação de uma novela de Guimarães Rosa. Eu preferia que não fosse mencionado que se trata de uma adaptação, pois a linguagem, o tempo e mesmo o ambiente do filme não é o mesmo do escritor mineiro. Há intervenções de muitos materiais estranhos ao universo roseano. Em Guimarães não há lugar para o eucalipto no escript ou de excesso de plástico ou de roupas confeccionadas de polietileno ou sei lá que outras fibras sintéticas. Mas valeu a produção. Talvez sejamos tão íntimos daquela realidade — eu que vim do sertão goiano — que não há impacto na compreensão do processo de formação do personagem. Talvez a rigidez ainda seja maior do que aquela enfrentada pelo Tiago de Kogut. Mas é isso, acredito que tenha faltado um pouco mais de pesquisa do universo roseano. Para baratear produção acabaram atualizando demais o tempo em que acontece a trama do filme.
E, depois, assisti alguns filmes de Mizoguchi. Pena que não sejam lançadas cópias de seus filmes por aqui!!! Trata-se de um cineasta tão maltratado no Brasil!!! Acabo de sair de 'Contos da lua vaga". Este filme foi feito em 1953, quando eu tinha apenas um ano, e parece que acabou de sair do forno — pão quente que queima nossos olhos e nossas mãos. Entrelaça realidade e imaginário para criticar os sonhos humanos. Dói!!!! Não analiso o filme, pois há material já disponível na internet capaz de dar um pouco de visibilidade sobre a sua importância!!! Veja na imagem a sutileza da construção da imagem japonesa!!!
2 de janeiro de 2008
O Carlos Willian me pediu um pequeno texto para o Opção Cultural com indicações de leitura para 2008. É com o texto que escrevi para ele que saúdo todos os meus visitantes com meus votos de um 2008 de mais humanidade:
São diversas as justificativas para a obrigatoriedade da leitura. Uma de Harold Bloom é a que mais satisfaz. Em uma de suas obras ele diz que devemos ler para combater a “presunção”. E, para combater a presunção, o acompanhamento de todos os segmentos das artes é tarefa imprescindível. Tarefa imprescindível, igualmente, o desenvolvimento de alguma tarefa — nem que seja crítica — que leve à participação social. Não adianta a leitura, a música, o teatro, se não há alguma integração com o humano.
O que se espera, em cada início de ano, é que a participação aconteça de forma mais integradora. Aguardamos sempre que desembarque nas livrarias novos livros definidores, desintegradores — e, com eles, desintegremos a nossa cavalar desumanidade. Presumimos que temos conhecimento, presumimos que somos humanos.
Em 2008, eu continuaria lendo Rilke, Kafka, Dostoievski. No entanto, algumas edições recentes merecem o desembolso de alguns reais e de algumas horas de solitária leitura. Duas coleções me chamam a atenção, inclusive pela abordagem social divergente: O quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell, pela Ediouro, em primeira tradução no Brasil, de uma poeticidade extraordinária, como se fosse um romance de viagem, mas com personagens deslocados da sociedade, por demais aristocratas; e a caixinha com os três livros de memórias de Máximo Gorki (Infância, Minhas universidades e Ganhando meu pão) pela Cosac e Naif, que continua encantando leitores mundo afora — este pertence sabidamente à corrente realista.
E depois dois livrinhos pequenos para os tempos de menos disponibilidade de leitura: O velho e o mar, da Civilização Brasileira (esse belo livro merece uma edição de bolso, acessível), de Hemingway; e Uma vida em segredo, de Autran Dourado, pela Rocco. Hemingway nos mostra a necessidade de cumprimento de nossos projetos, a necessidade de enfrentarmos nossas tarefas com honradez e determinação. Já Autran Dourado, nessa pequena obra prima da literatura brasileira, nos ensina a necessidade de respeito às diferenças culturais. E que todos não deixem de acompanhar a reedição da obra de Graciliano Ramos, toda revisada, pela Record. Ai, são tantos livros! Não gostaria de esquecer Érica e seus irmãos, de Élio Vitorini, pela Berlendis @ Vertecch. Romacinho desgraçado. Gostaria que ele acertasse o estômago de mais gente!
Estes e muitos outros livros são leituras obrigatórias, para nos livrar da presunção de que sabemos, em qualquer ano que comece.
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